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7 de julho de 2024, 18h00, Cine-Teatro da Academia Almadense (Auditório Osvaldo Azinheira), Festival de Teatro de Almada


No dia 7 de julho de 2024, pelas 18h00, no Cine-Teatro da Academia Almadense, no Auditório Osvaldo Azinheira, integrado no 41º Festival de Teatro de Almada, assistiram ao espetáculo cerca de 200 pessoas. Leram o Luís Carlos, o Nuno Moura, o Raúl Pinto, a Maria João, a Filipa Albergaria e a Elisabete Oliveira. Na parte do espetáculo dedicada a intervenções do público, Sofia Lima partilhou que a sua avó Teresa Rita Lopes teve um AVC em consequência do qual veio a falecer mas que até então todos os dias a senhora escrevia na rede social Facebook e que a última entrada que fez é sobre Salgueiro Maia. Manuela Pereira Pinto disse ter ficado muito emocionada e felicitou a companhia pela peça, sentir-se envergonhada por não saber nada sobre Salgueiro Maia, que considera um herói e sente vergonha do poder política nunca ter dado a conhecer a figura de Salgueiro Maia e reiterou a pergunta do público de Almada de há dez anos: será que este espetáculo não deve ser partilhado por muitos mais portugueses? Seguiu-se Carlos Henrique, que agradeceu pelo espetáculo e disse que o que admira mais na figura de Salgueiro Maia é a coragem que ele demonstrou aliada ao facto da mesma não resultar da arrogância, mas da sua grande sensibilidade humana. Acrescentou ter visto uma série televisiva recentemente e questionou se não existiria em Salgueiro Maia uma certa amargura. O senhor João Pedro Gouveia partilhou que participou na Guerra Colonial, que esteve em Moçambique e que aquela foi uma guerra estúpida, que foi imposta aos jovens portugueses que iam para lá sem noção do que iam fazer nem de que guerra era aquela e considera que deve ter sido um dos maiores erros da nossa história. Seguiu-se Raúl Pinto que quis partilhar que para quem quiser saber mais sobre Salgueiro Maia, há um filme recente, “O Implicado”, que ilustra bem a coragem de um homem que naquele dia estava ali, em cima de um tanque, sendo um alvo fácil para um tiro, para fazer uma revolução. Acrescentou que em Castelo de Vide existe a Casa da Cidadania e que o espólio de Salgueiro Maia está lá. De seguida, Paulo Ferreira disse que também esteve na Guiné que não era um terreno fácil, mas com gente muito bonita que os portugueses tentavam sempre ajudar, embora estivessem lá a combater. Disse que foi baleado por três vezes e que está vivo porque sabe fazer um garrote. Seguiu-se Ana Figueiredo que mencionou o filme “Capitães de Abril” de Maria de Medeiros como uma ótima obra para os jovens ficarem a saber mais sobre Salgueiro Maia.

A vontade de muitas pessoas falarem era evidente e o intérprete teve que atalhar, passando ao momento de composição da chave cartográfica de transmissão.

Nunca a plateia do espetáculo tinha sido tão grande e também nunca a emoção esteve tão presente neste momento do espetáculo. Depois do intérprete revelar o que esta cartografia está em construção e a ser publicada com entradas sobre cada representação, visando fixar a memória, desafiar o tempo e atingir o futuro, e apesar dos apelos do intérprete para que o número de contributos dos presentes fosse razoável ao ponto de poder ser decorado no momento, como é suposto acontecer, a verdade é que as pessoas se manifestaram de forma indómita, numa demonstração que a sua vontade de contribuir superava quaisquer limites formais. Com dificuldade, o intérprete foi tentando gerir as intervenções, solicitando o nome a cada pessoa. Finalmente, e desistindo de tentar conter o povo, o intérprete pediu que o ajudassem a pronunciar as palavras da chave cartográfica de transmissão na voz de cada um dos proponentes. Já com alguns dos presentes em pé, outros saindo e outros querendo aplaudir, as pessoas seguintes, já em coro com outras e com o intérprete, proferiram a chave cartográfica de transmissão que terminou com todos à uma, dizendo a palavra “Liberdade”. Várias pessoas tiveram a gentileza de ir apontando os nomes e as palavras.

Luís Guerreiro – Emoção;

Isabel José – Integridade;

Graça Louro – Dignidade;

Mariana Lagarto – Agradecimento;

Sofia Lima – Luta;

Fernanda Ribeiro – Esperança;

José Cardoso – Coragem;

Elisabete Teixeira – Responsabilidade;

Ana Cruz – Memória;

José Lobato – Pureza;

Paulo Ferreira – O herói que não se rende;

Julieta d’Oliveira – Humanidade;

Elisabete Oliveira – Empatia, frontalidade;

“LIBERDADE”, dito e repetido por várias pessoas.

O intérprete regista que os agradecimentos, que aconteceram pelas 19h46, foram um momento inesquecível, pela simbologia do momento mas sobretudo pela energia que sentiu que estava na sala, que classifica ser do tipo de coisas que pertence à ordem daquelas que o intérprete gosta de afirmar que “só pode acontecer com o público de Almada”.

Para além de um agradecimento particular e uma dedicatória deste dia à Equipa do Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana, nas pessoas do Adriel Filipe, da Elisabete Pinto e do Tiago Fernandes, ali em trabalho, não podemos deixar de agradecer e registar as palavras de várias pessoas que assistiram ao espetáculo e que quiseram falar com o intérprete. Conhecemos pessoas que felizmente têm trabalhado ativamente na preservação e dignificação da memória de Salgueiro Maia. Fomos cumprimentados por uma senhora muito especial, que tudo fez para passar despercebida e que nos convidou para uma visita a Santarém, para uma conversa sobre Salgueiro Maia, pois sentiu vontade de também falar mas confessou que seria incapaz de o fazer publicamente. Prometeu que nessa visita falará e que depois o intérprete poderá fazer do que ela disser o que ele quiser. Felicitou e agradeceu muito à Equipa pelo espetáculo. O intérprete agradeceu. E aqui pode partilhar que nunca se vai esquecer das vezes que os seus olhares se cruzaram durante a representação e o arrepio que sentiu em cada uma delas, principalmente quando viu a senhora a enxugar os olhos, o que lhe deu vontade de parar o espetáculo. No final, pediu desculpas à senhora pela “maldade”, agradeceu e transmitiu como é especial ter recebido uma nota manuscrita pela mão da senhora no dia da estreia do monólogo original em 2014 e 10 anos volvidos, finalmente poder conhecê-la e apertar-lhe a mão. Já na saída, foram ainda registados os cumprimentos e agradecimentos da Equipa a Paulo Mendes, o técnico destacado que acompanhou e coadjuvou a montagem, assim como a Sara Libório, assistente de sala do festival. Nas suas pessoas, se agradece também a toda a Equipa do Festival de Teatro de Almada pelo apoio, assim como à Companhia de Teatro de Almada e à Câmara Municipal de Almada pelo convite. Mal podemos esperar pelas récitas de amanhã e de quinta-feira. Bem-hajam.

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