No dia 9 de julho de 2024, pelas 21h30, no Cine-Teatro da Academia Almadense, no Auditório Osvaldo Azinheira, integrado no 41º Festival de Teatro de Almada, assistiram ao espetáculo cerca de 160 pessoas. Leram a Mónica Lara, o Fernando Matos, a Marta Pacheco, a Sissa Sousa, a Rafaela Fernandes, a Mara Martins. Na parte do espetáculo dedicada a questões e comentários do público, Inês Rodrigues perguntou o porquê do título do texto original ser 24 e não 25A74, tendo o intérprete explicado que a ideia foi aludir à madrugada de 24 para 25 de abril, por ter sido iniciado o golpe
ainda na noite de 24 e também porque, por outro lado, essa alusão provocava precisamente uma estranheza que há dez anos, pareceu interessante como título. Seguiu-se João Couvaneiro que assinalou que todas as pessoas que leram no espetáculo de hoje foram mulheres e que gostaria de assinalar esse facto, comentando que foi também para isso que se fez o 25 de Abril, o que originou um aplauso espontâneo da maioria do público. Em seguida, Susana Fernandes perguntou ao intérprete se tinham chegado a receber o telefonema da RTP2 para filmar a peça, tendo o ator respondido que não, ainda não aconteceu mas que tem esperança que ainda irá acontecer, com esta ou outra peça, até porque já receberam telefonemas de jornalistas a dizer que gostavam de ir a Viana do Castelo para fazer notícia mas que não dispõem de orçamento para tal. De seguida, Luzia Paramés gracejou dizendo que “não sei se sabe que os nomes e locais são muito importantes numa cartografia”, questionando onde foi feito o espetáculo em Almada e qual o nome da pessoa que propôs o abaixo-assinado para enviar para a RTP. O intérprete respondeu e agradeceu a questão que lhe permitia também partilhar que uma das razões para querer fazer este espetáculo foi precisamente o facto de durante anos, nas conversas e estórias que foi colecionando enquanto fez o espetáculo, não ter ficado com os nomes de várias pessoas, incluindo a pessoa que fez a intervenção sobre a RTP. Revelou ainda que o espetáculo em Almada havia sido feito na Sala Experimental do Teatro Municipal Joaquim Benite. Seguiu-se Rui Cardoso Martins que deu os parabéns pelo espetáculo e partilha que nasceu em Portalegre, Marvão, naquela zona próxima de Castelo de Vide e que, poderia ficar-se com a ideia, pela peça que pouco foi feito pela memória de Salgueiro Maia por aqueles lados. Por isso, querendo de alguma forma defender a sua terra e porque gostou muito de algumas passagens do espetáculo, por exemplo, a descrição da vontade de Salgueiro Maia ser sepultado ao som de uma canção, que é algo de certa forma muito alentejano, queria perceber se atualmente a sepultura, a casa natal, a vila, se mantêm a situação de abandono que se percebeu durante a peça, porque tem ideia que passados estes anos, as coisas já estarão um pouco melhores, pelo menos. O intérprete agradeceu a questão, igualmente por lhe permitir partilhar que felizmente as coisas estão bastante melhor, inclusivamente, depois da representação de domingo dia 7, que teve a presença de Natércia Maia, viúva de Salgueiro Maia, e que o intérprete teve finalmente ocasião de conhecer, facto que sublinhou e agradeceu dever-se à organização do Festival de Teatro de Almada, que convidou e providenciou as condições para Natércia Maia vir assistir ao espetáculos, acrescentou que no final do espetáculo, quando se conheceram, mais pessoas estavam também presentes e que, entre outras conheceu uma senhora, que lamenta não ter ficado com o nome, mas que vai tratar de saber, que disse que ela e o marido compraram a casa de nascença de Salgueiro Maia em Castelo de Vide e a recuperaram no sentido de a musealizar e que neste momento se encontra já, pelo menos, devidamente assinalada como tal, pelo que o intérprete concluiu passando a imodéstia de gostar de sentir que este espetáculo é uma pequena gota no oceano de esforços que vão sendo feitos no sentido da preservação da memória e divulgação do exemplo de Salgueiro Maia. De seguida, Cecília Pedro disse ter curiosidade sobre a construção do espetáculo, porque ficou com ideia que o espetáculo de há 10 anos, teria outro alinhamento, o que o intérprete confirmou. A seguir, Natália Pinto afirmou que teve o prazer de estar a em Castelo de Vida recentemente e que felizmente confirmou que a memória de Salgueiro Maia está melhor cuidada mas que, ainda assim, considera que ainda pode e deve estar melhor, com maior dignidade. Afirmou ter tido o privilégio de ser amiga de Salgueiro Maia durante dez anos, assim como outro amigo que estava ali com ela e que ambos pertenceram aos órgãos dirigentes da Associação dos Amigos dos Castelos, de que ele foi sócio e entusiasta. Acrescentou que pouco se sabe mas Salgueiro Maia era um grande contador de anedotas e que ouviu da boca dele muitas anedotas e estórias, muitas delas sobre a vida. Terminou dizendo que ele era um homem de uma grande dignidade, enquanto homem, militar e que tudo o que ele viveu é de um grande valor. Seguiu-se Jorge Rato, que partilhou que teve a sorte de estar no Largo do Carmo no 25 de Abril de 1974 e que viu toda aquela coreografia, que viu Salgueiro Maia ao longe, sem saber quem ele era e que assistiu ao desenrolar dos acontecimentos. Lamentou o “escarro” (palavras suas) da placa que está no chão em honra de Salgueiro Maia não ter podido ser afixada na parede do Quartel do Carmo, por intransigência da hierarquia da GNR. Que a placa, aquele “escarro, até podia ficar no chão, onde está, mas que considera que deviam colocar uma placa na parede do Quartel do Carmo, em homenagem a Salgueiro Maia, porque nunca será demais. Seguiu-se Cristina Lagarto que perguntou se se sabia a razão da exumação dos restos mortais de Salgueiro Maia para recolha de ADN. O intérprete respondeu que teve a ver com um processo de reclamação de paternidade. No momento de construção da chave cartográfica de transmissão, sendo tantas as participações, o intérprete pediu para adotar a estratégia que adotou no domingo, sugerindo que cada pessoa dissesse em voz alta a sua palavra, que seriam todas registadas pela equipa do espetáculo e que o intérprete irá decorar para abrir o espetáculo de quinta-feira. A chave cartográfica de transmissão foi assim definida:
Sissa Sousa – Reviver;
Marta Pacheco – Memória;
Maria Emília Castanheira – O anti-herói;
João Couvaneiro – Dignidade;
Joaquim Ferro- Integridade;
Sónia Pires – Respeito;
Gracinda Ferro – Ideais;
Cecília Pedro – Pensamento próprio;
Fernanda Matos – Ética;
Helena Marujo – Ousadia;
Rafaela Fernandes – Sofrimento;
Dina Lopes Paulo – Liberdade;
Carla Prino – Resistência.
Em plenos agradecimentos, o intérprete pediu a palavra e agradecendo aos membros da Equipa ali presentes (Adriel Filipe, Elisabete Pinto, Tiago Fernandes) disse que se esqueceu de, antes de encerrar o espetáculo com a chave cartográfica de transmissão, revelar que a descrição da representação de ontem iria ser publicada no site cartografia.online e que ali poderão encontrar a Cartografia de um monólogo. Lamentou a falha e voltou a agradecer. E saiu.
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