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Página do espetáculo Salgueiro Maia: cartografia de um monólogo, do Teatro do Noroeste - Centro Dramático de Viana.
A estória de um espetáculo e das pessoas que o fizeram e viram. E das pessoas que o continuam a fazer e a ver.
Que começou há dez anos. E que vai continuar, até um momento e um lugar que ainda não é possível determinar.



Em 30 de abril 2014, nos 40 Anos do 25 de Abril e integrado no programa das Comemorações Populares do 25 de Abril de Viana do Castelo, estreava num espaço não convencional, o antigo paiol de munições do Forte de Santiago da Barra, o monólogo 24A74 – Salgueiro Maia, escrito e interpretado por Ricardo Simões a partir de “Crónicas da Guerra Colonial e do 25 de Abril” da autoria de Salgueiro Maia, espécie de livro de memórias do capitão que comandou a coluna que teve um papel central no dia da Revolução dos Cravos.
Um espetáculo de 60 minutos que não previa mas passou a integrar uma conversa espontânea que se gerou no final, facto inusitado que o transformou, desde logo e a partir do momento da sua estreia, em algo mais que uma representação de sentido unidirecional: na plateia, pessoas que estiveram na guerra colonial ou que viveram os dias da ditadura ou que já nasceram em democracia quiseram manifestar a sua opinião, colocar questões, participar de uma manifestação artística que acabavam de experienciar, talvez num impulso espontâneo parecido com o de quem saiu à rua quando percebeu que estava a viver o Dia da Liberdade.
Dali, e das apenas 6 representações previstas, o pequeno objeto artístico rebelou-se e partiu a correr terras e oportunidades de apresentação, que foram surgindo de acordo com a temática abraçada e a leveza do seu pé, já que um ator, um técnico e cinco livros foram sempre quanto bastou para percorrer o Alto Minho, Porto, Maia, Almada, Portalegre, Elvas, Beja, Cáceres, Badajoz, Sevilha, Saragoça, São Paulo e voltar a Viana do Castelo, em mais de 60 apresentações feitas ao longo de 5 anos.
Um percurso que acumulou encontros e conversas e que viveu estórias improváveis com protagonistas anónimos do Portugal cinzento da ditadura, como muitos antigos combatentes que, estando ainda vivos, sofrem no silêncio, numa contrição que os oprime e que se continua a varrer para debaixo do tapete da História Contemporânea.
Dez anos volvidos, nos 50 Anos do 25 de Abril, Ricardo Simões volta a enfrentar-se como ator e autor do monólogo original, mergulhando numa década de experiências marcantes, provocando agora que objeto e memória, texto e documento, passado e presente, se
sistematizem na construção de um novo lugar de atuação intitulado Salgueiro Maia: cartografia de um monólogo.

© João Grisantes
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