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11 de julho de 2024, 21h30, Cine-Teatro da Academia Almadense (Auditório Osvaldo Azinheira), Festival de Teatro de Almada


No dia 11 de julho de 2024, pelas 21h30, no Cine-Teatro da Academia Almadense, no Auditório Osvaldo Azinheira, integrado no 41º Festival de Teatro de Almada, assistiram ao espetáculo cerca de 180 pessoas. Leram a Graça Clemente, a Otília Correia, o Davoud Ghorbazadeh, o Hugo Morgado, a Marta Matos, o Miguel Ramires, que foi ao palco ler as palavras de Salgueiro Maia. Durante o espetáculo o ar condicionado da sala deixou de funcionar e ficou muito calor, o que tornou a permanência do público na sala até ao fim, estoica. No momento do espetáculo dedicado a intervenções do público, José Pinheiro disse que não viveu o 25 de Abril em Portugal pois estava em Timor, um “paraíso” que com a guerra se tornou no pior inferno. Disse que o pior que o fascismo fez ao povo português foi a ignorância em que mantinha as pessoas. Seguiu-se Davoud Ghorbazadeh, que agradeceu pelo espetáculo e disse que o mesmo merecia a palavra “Bravo” por considerar ser necessária muita coragem para apresentar esta peça. Acrescentou que considera que Salgueiro Maia foi o o grande vencedor do 25 de Abril e perguntou ao intérprete o que diria a Salgueiro Maia se ele estivesse hoje ali, a ver aquela peça. O ator respondeu que acha que só poderia e bastaria dizer “Obrigado, sendo secundado por aplausos do público. Seguiu-se Vera Lopes que agradeceu pelo espetáculo aquilo que a fizeram viver ali hoje. Perguntou ao intérprete o que o tocou de forma mais marcante, depois de toda a pesquisa que certamente fez para escrever este espetáculo. O intérprete partilhou alguns aspetos da personalidade de Salgueiro Maia que considera caricatos e que, de certa forma, são fascinantes porque o humanizam. Disse que quanto mais conhece aspetos sobre o ser humano, aquilo que mais o cativa em Salgueiro Maia são os defeitos: o mau-feitio; a teimosia; a obsessão com o rigor; o facto de adorar cantar, apesar de toda a gente à sua volta lhe pedir para não o fazer, pois ele era muito desafinado. Entre outros “defeitos” que, na opinião do intérprete, valorizam ainda mais as suas muitas qualidades e feitos. De seguida, Cláudio Anaia recomendou uma visita ao Museu de Castelo de Vide, pois vale a pena, a entrada é grátis. Conhece relativamente bem a obra de Salgueiro Maia, afirma que estuda a sua vida e obra há mais de 20 anos. Acrescenta que Salgueiro Maia só foi reconhecido “há coisa de meia dúzia de anos atrás”, sendo uma figura que foi bastante votada ao esquecimento e que ainda bem que atualmente é bem mais reconhecida, dizendo ainda que, também de acordo com a peça, se percebe que Salgueiro Maia se sentia injustiçado e perguntou qual a opinião do intérprete para o facto de ter demorado tanto tempo para que Salgueiro Maia começasse a ser mais reconhecido. O ator respondeu que não tinha uma resposta direta para a pergunta, desde logo porque não viveu o tempo do 25 de Abril e que, tendo nascido em 1979, durante a década de 1980 ainda era uma criança, assim como em 1992 quando Salgueiro Maia faleceu. Mas daquilo que leu e sabe, parece-lhe que o herói da Revolução dos Cravos se deve ter tornado incómodo para diversas pessoas e diferentes quadrantes políticos. Isto numa primeira fase pois, ao contrário de outros, Salgueiro Maia não enveredou pela política e isso ter-lhe-á custado desconsiderações e mesmo represálias, por parte dos poderes vigentes de turno e também dentro da hierarquia militar. Conta como Salgueiro Maia foi crítico, inclusive de Vasco Lourenço e Otelo, que eram e foram sempre seus camaradas e amigos, com quem se encontrava muitas vezes. Mas a retidão quase radical e o compromisso inabalável de Salgueiro Maia com o programa do MFA fez com que se tornasse incómodo para muita gente. Ele esteve no 28 de setembro em Tancos avisando Spínola para fugir para Espanha pois haveria um banho de sangue; assim como no 25 de novembro, recusou enfrentar militarmente camaradas de armas e atuou, tal como no Largo do Carmo, em abril de 1975, no sentido de evitar derramamento de sangue a todo o custo, pois considerava que já sangue suficiente custa a guerra colonial e que não era tolerável haver lutas fratricidas em Portugal. É o mesmo homem que nunca se preocupava com ele mas sempre com os outros. Que não tomou bem conta de si quando soube que estava gravemente doente, escondendo a doença de família e amigos. E o ator também não sabe explicar como é que foi possível que em 1992, o Governo de Portugal tivesse recusado, alegando um pressuposto jurídico como impeditivo, uma pensão de sangue à família de Salgueiro Maia, que acabara de perder o seu pilar, como forma de, de alguma maneira, lhes valer. Mas que depois condecora uma série de pessoas por altos serviços prestados à Pátria, entre as quais dois ex-PIDEs, um dos quais é de infame obra, era o responsável pela segurança na sede na PIDE na Rua António Maria Cardoso, na tarde de 25 de Abril de 1974, portanto, alguém que, se não disparou, foi quem deu ordem de fogo para os agentes que metralharam a multidão desarmada que estava na rua, matando 4 pessoas. Essa figura ignóbil, que ainda hoje é viva, levando uma existência pacata neste país, foi condecorada por Cavaco Silva por altos serviços prestados à Pátria e recebeu uma pensão de mérito durante 8 anos, até que o então Presidente da República Mário Soares a revogou (neste momento alguém começou a aplaudir tendo sido seguido pela maioria dos presentes) e atribuiu a Salgueiro Maia a título póstumo uma ordem honorífica que é a única que contempla também a atribuição de uma pensão, como único expediente ao alcance da Presidência para de alguma forma, reparar aquela situação. O intérprete acrescenta que era criança quando isto aconteceu e só pode partilhar a sua perplexidade quando pesquisou e descobriu factos como este e que considera que quanto mais sabe sobre o tema, mais razões encontra para continuar a fazer esta peça. Seguiu-se Maria Elvira que perguntou ao intérprete se este era sobrinho ou neto do Isaías, tendo este respondido que sim, que era sobrinho, que o tio Isaías era alguém que ele não chegou a conhecer, uma fotografia que estava em casa dos seus pais. Seguiu-se Graça Clemente que disse que é de Santarém e que se lembra de ter visto Salgueiro Maia com a esposa, a professora Natércia que foi sua professora de Matemática no Liceu e que, claro, não podia imaginar o herói que ele seria mais tarde e acrescenta que tem essa grata memória e que, por isso, sempre que se fala daquele homem, se emociona, terminando agradecendo pelo espetáculo. Seguiu-se a chave cartográfica de transmissão que, devido a elevada participação, foi composta mas não decorada no momento, tendo o intérprete instado cada pessoa a dizer a sua palavra ou ideia pela ordem respetiva. Foram elas:

Patrícia Anaia – Integridade

Marta Matos – Honra

Davoud Ghorbanzadeh – Paz

Maria José Costa – Memória

Otília Correia – Liberdade

Maria Elvira – Sonho

Claúdio Anaia – Coragem

Silvina Madalena – Heroísmo

Abílio Barroso – Guerra

Orlando Costa – 50 anos depois

Maria Isabel – Não ao esquecimento é dar o nome de Salgueiro Maia a uma rua.

Vero Lopes – História, Humanismo, Esperança

O espetáculo terminou às 23h16, com uma generosa ovação de pé, a terceira de três representações e o espetáculo teve como assistentes de sala Marta Prieto, Mariana Alexandra, Alice Neves, e o apoio do técnico Paulo Mendes.

O intérprete deseja também incluir o agradecimento às assistentes de sala de dia 9, Daniela e Nani, que se esqueceu de incluir. Assim como aproveita para agradecer ao Festival de Teatro de Almada. E à Equipa do Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana.


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